terça-feira, 15 de junho de 2010

Minha primeira vez

Por Fábio Agra



A primeira vez que entrei em um cinema foi para assistir ao filme E.T, o Extra Terrestre, de Steven Spielberg. Provavelmente tinha uns seis anos de idade. Lembro-me muito bem de estar sentado do lado esquerdo do meu pai em uma das primeiras filas do Cine Glória. Para aquela criança, que estava ali com os olhos encantados ao ver uma imensidão branca a sua frente se transformar em um grande buraco negro por onde aos poucos a luminosidade das palavras anunciava o início do filme, era extraordinariamente assustador.

A memória que tenho daquele dia era a o medo e a curiosidade que se postavam em mim. Realmente não me lembro de muitas cenas, tampouco me recordo de ter visto o E.T. Mas uma cena nunca saiu da minha cabeça. Quando Eliott (Henry Thomas) vai até a floresta e joga alguns amendoins no chão para ver se o E.T aparece. De repente um senhor surge e faz com que Eliott se esconda. Fiquei apreensivo, na expectativa de que o E.T fosse aparecer ou então que aquele senhor, sem importância no filme, fosse uma espécie de vilão. Ficava perguntando ao meu pai – Ele (E.T) aparece agora? Meu coração disparava ao perceber que a qualquer momento surgiria na tela aquela figura monstruosa que minha imaginação dava conta de construir. Não sei em que momento parei de perguntar ao meu pai se era a hora de o E.T aparecer. Não sabia e nem tinha noção que naquele momento, em volta aos sentimentos de medo e curiosidade, estava nascendo também o gosto pelo cinema, a nostalgia de uma época. Estava escrevendo meu próprio roteiro, fazendo meus próprios enquadramentos de uma lembrança que não era de um filme que poucas cenas vêem à memória, mas do meu pai me levando ao cinema, ao saudoso Cine Glória.

Anos mais tarde, nos especiais de fim de ano da Rede Globo, eu acho que em 1989, a atração principal era E.T o Extraterrestre. O filme ia começar às 10 da noite, eu acho. Então, antes da ceia de natal, meus irmãos, uns dois amigos e eu nos amontoamos no quarto da minha avó para assistir a atração inédita. Não resistimos ao sono. A cena de Eliott jogando amendoim na floresta só vi novamente anos depois, verdade seja feita, era um tanto diferente do que a minha imaginação guardou, assim como todo o filme.
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